sexta-feira, 9 de julho de 2010

Fase

Senhores e senhoras,
De maduros caem em si.
Tempo passou
Tempo correu
E todo tempo ficou

No início:
Anos que nunca passavam
E nunca chegavam
A energia que não cessava
O mundo que corria
O prazer pela correria...

E as certezas,
Metamorfoseavam a cada descoberta.
E os medos,
Vencidos a cada oportunidade.

Daí entram novos desejos
E os anos passam depressa
Numa curiosa ampulheta.
A cada grão uma marca,
Um sinal de que o tempo fica pra trás.
Restam histórias e rugas

Chegam novas certezas,
Imutáveis.
Uma tal sabedoria
Como mágica encarna com os anos

Dita, experiência:
Insiste em crer
Numa verdade absoluta
Que só o tempo elabora.

E duvida das certezas mais sinceras,
Mais profundas
Que orbitavam um intelecto jovem
Antes do peso dos anos.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Caminho

Fez-se o pó
Do pó viemos.
Fez-se o Sol
Ao Sol louvamos.
Fez-se a terra
Nela plantamos.
Fez-se a água
Dela bebemos.
Fez-se o mel
E dele a doçura,
Da doçura a paixão
Da paixão veio o bem
E do bem, o mal.
Do mal o desejo
Do desejo a guerra
E dela as idéias.
Das idéias a luz
Da luz o fogo
Do fogo o terror.
Contudo, ao fogo louvamos
E terra queimamos.
O pó foi à água
A água sujamos
A garganta secamos.

Do pó viemos
Ao pó retornamos.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Cimento

O cara, cansado,
Calado, Calmo.
Seu carma
A labuta,
Puta, pobre,
Pungente

Emoldurado em seu paletó
Ainda carrega manchas
Das manhãs e madrugadas

Lá fora o papel é diferente
O sorriso desenha a máscara,
De satisfação
De bom cidadão

Em casa
Cria asa
Cria vida
Imagina
Cria, só

A paleta e o paletó
Máscara e moldura
Antagônicas
Que em seu sonho
Se encaixam,
Harmônicas

Cores colorem, camuflam
Suaves e vorazes
Enganam

Desenhos...
Esboçam delicadamente
O delicado desejo
De domar suas vaidades,
Dominar a covardia,
Assumir seus dons.
Construir-se
Sedimentar-se
Acima de rotinas
E rotas e rótulos

O ranço social

Ruminamos nossas vontades
Regurgitamos
Recobramos a sanidade
Insana,
E vivemos dentro das leis
Da moda, modos,
Remorsos,
Vergonhas

E a arte pulsa
Em cada pulso
Em cada passo

Arte|manhas
Driblam a palidez do cimento
E a mente monta uma saída
A mente mente
E tenta acreditar
Que a palidez polida do capital
Não engoliu a altivez da criação

sábado, 22 de maio de 2010

Observação

Hipocrisia camuflada num jogo de interesses na busca pelo sucesso, pelo brilho. A batalha para chegarmos ao topo, para ganharmos destaque.
Tudo atropela o caráter, o bom senso. Tudo tem um preço. Tudo é corrompido, todos se corrompem.
Nos jornais o destaque é para o criminoso, para os problemas, e tudo contribui para uma lavagem que leva toda uma sociedade a enxergar apenas o que querem que seja notado.
Alguns homens são grandes, outros têm a grandeza imposta a eles e outros impõem sua grandeza a quem aceita.
E são tantos os que aceitam, e tantos os que nem percebem que no final de tudo, a sociedade em que vivemos não passa de um exército de formigas; onde, mesmo os que não aceitam o que é imposto, acabam por não mudarem nada.
Até que todos acordem, até que todos desiludam, uma minoria continuará não afetando nem metade da massa.

Fantasma

Páginas que virei
Voltei, vivi, venci
Passei,
Sem ultrapassar.

A poeira já sedimentada
Que insisto em levantar.

Memórias frias
Que amorno
Forço-me a lembrar.

E o brilho de seus olhos
Que abrasa os olhos meus
Inunda um nevoeiro
Um negrume,
Onde guardo meus anseios.

Dito brilho me acompanha
Enquanto de pé
Tanto em meu leito
Ilusiona felicidade
E não satisfaz mais que corrói.

Carrega a alma.
Alma...
Insegura acredita
No que já morreu.
Morte...

O único mal sem retorno.
Mal que aturde mais
Os que com a vida ficam
Que os que sem ela foram.

E o Menestrel
Que causa e descausa
Mata o físico e mantém a alma
De quem não volta.

Mata a alma q mantém a casca
Dos corpos vazios
Que os querem de volta.

E esse vazio
Me torna vulnerável
Sedenta do que é julgado
Impossível.

Toda a frustração
Mescla-se numa enxurrada de sentimentos

Saudade...

Aperta meu peito
Cada vez que
Na luz dos meus olhos
Vejo os olhos dela.

Baile de Máscaras

Prepotentes e inseguros os convidados dançavam. Conforme a música e o ritmo. Cercados de espelhos e de uma bonita decoração. Mas se atentavam ao anfitrião, ao maestro, aos parceiros e aos arredores. Sem nenhum contato real, sem se enxergarem.

Havia fadiga, mas sem descanso. Eram hesitantes e não se sentariam se não pelo cessar da música. Mas o maestro se mantinha e o anfitrião admirava suas formigas.

Havia momentos que as portas se abriam e por elas caminhavam homens proferindo palavras. E a música cessava ao som dessas palavras.

Todos voltavam seus ouvidos a elas mas verbos eram jogados ao ar. Já que os ouvidos se ocupavam mas as mentes permaneciam alheias. Vozes, signos, frases... Firmes e penetrantes filosofavam. Louvavam o autoconhecimento, a sabedoria, o amor.

Mas as mentes só se acalentavam ao som do discurso do anfitrião. Às suas ordens. Mandos e desmandos regurgitados, e todos voltavam ao anormal padrão.

Ao som da música, dançavam normalmente. Sem se olharem no espelho, sem falar. Mantinham sua rotina de trivialidades e a vida fluía por dutos sem energia.

E os grandes homens, capazes de interromper a música, mesmo que por um fugaz momento, saiam do saguão e iam para as ruas se juntar aos outros que, sem formalidades, sem máscaras, dançavam ao som da música que eles mesmos cantavam. Ao som que melhor se encaixava a cada momento.

Ali, na rua, o sangue era quente. E a vida que fluía ali era tão vigorosa, tão viva que iluminava a tudo, criando a mais bonita decoração. Os mais bonitos verdes, as mais limpas águas, os mais doces perfumes, que só não eram sentidos de dentro do saguão.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Subterfúgio

Sobre a sebe
Sobe um bicho

Faz a seda


E a maciez

A seda

De sua pele

Seu tear

Minha prisão


Em sua teia

Meu tormento

Lamento

Meu lar


Minha sede

De seu sumo
Seu suor

Seu sabor


Ante o sonho

O dilúvio

O corte

A sutura


O recurso

A recusa
Frio, o sangue pulsa.
Sob a pele

Reconstruo

A armadura amarga,

A proteção