sábado, 22 de maio de 2010

Baile de Máscaras

Prepotentes e inseguros os convidados dançavam. Conforme a música e o ritmo. Cercados de espelhos e de uma bonita decoração. Mas se atentavam ao anfitrião, ao maestro, aos parceiros e aos arredores. Sem nenhum contato real, sem se enxergarem.

Havia fadiga, mas sem descanso. Eram hesitantes e não se sentariam se não pelo cessar da música. Mas o maestro se mantinha e o anfitrião admirava suas formigas.

Havia momentos que as portas se abriam e por elas caminhavam homens proferindo palavras. E a música cessava ao som dessas palavras.

Todos voltavam seus ouvidos a elas mas verbos eram jogados ao ar. Já que os ouvidos se ocupavam mas as mentes permaneciam alheias. Vozes, signos, frases... Firmes e penetrantes filosofavam. Louvavam o autoconhecimento, a sabedoria, o amor.

Mas as mentes só se acalentavam ao som do discurso do anfitrião. Às suas ordens. Mandos e desmandos regurgitados, e todos voltavam ao anormal padrão.

Ao som da música, dançavam normalmente. Sem se olharem no espelho, sem falar. Mantinham sua rotina de trivialidades e a vida fluía por dutos sem energia.

E os grandes homens, capazes de interromper a música, mesmo que por um fugaz momento, saiam do saguão e iam para as ruas se juntar aos outros que, sem formalidades, sem máscaras, dançavam ao som da música que eles mesmos cantavam. Ao som que melhor se encaixava a cada momento.

Ali, na rua, o sangue era quente. E a vida que fluía ali era tão vigorosa, tão viva que iluminava a tudo, criando a mais bonita decoração. Os mais bonitos verdes, as mais limpas águas, os mais doces perfumes, que só não eram sentidos de dentro do saguão.

Um comentário:

  1. Sua crítica foi metaforicamente sábia.
    A máscara que sempre esconde a realidade privava os outros da verdadeira face.
    Muito, muito bom, Juju!

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